17.10.07

O Nosso Eixo do Mal


Há um homem que nutre um especial afecto por Portugal, com perseverança esforça-se por defender a nossa nação e nós cegamente o criticamos e não apoiamos as suas actuações.

Já passaram alguns anos desde que o carismático presidente dos EUA anunciou a existência de um eixo do mal e Portugal não entendeu que esta mensagem era exclusivamente do seu interesse. Desde, o comum português até ao mais atento e perspicaz comentador (algo que em Portugal se multiplica devido à idade avançada dos nossos políticos), poderão sempre argumentar que não é fácil interpretar os seus discursos distantes da realidade, nos quais faz uso de metáforas, códigos e de uma semântica apenas perceptíveis aos iluminados, mas é verdade o eixo existe e está bem presente.

Contra quem, contra o quê, que tipo de armas de destruição massiva é que Portugal e mais especificamente as empresas nacionais terão que enfrentar. De seguida, passo a identificar estes pseudo-terroristas que ameaçam a nação portuguesa, procedendo à sua análise com especial enfoque no tecido empresarial.

Crise do Sub-prime

O sub-prime é um tipo de crédito habitação que se destina a pessoas com dificuldades em obter financiamento (baixos rendimentos, situação financeira instável), que apresentam menor elasticidade face a variações da taxa de juro e por outro lado pagam as mais altas taxas de juro em comparação com a média do mercado. Um segmento arriscado mas apetecível, principalmente quando em 2 anos as taxas de juro mais que duplicaram o seu valor.

O primeiro impacto do fenómeno, que os mais rudimentares modelos de risco conseguiriam prever, foi sentido por todas as instituições que estavam expostas a este tipo de financiamento, na sua maioria dos EUA mas também de algumas entidades europeias. Até ao momento a FED e o BCE conseguiram controlar a crise procedendo ao aumento de liquidez nos mercados ou descendo as taxas de juro.

As despesas do levianismo por parte das instituições financeiras que são responsáveis pela concessão deste tipo de crédito serão avultadas. Segundo um estudo realizado pela Calyon, unidade de banca de investimento do Credit Agricole, a crise no mercado de empréstimos de alto risco nos EUA vai representar cerca de 150 mil milhões de dólares (110,37 mil milhões de euros) em perdas para os investidores em crédito em todo o mundo.

Mas o verdadeiro custo está por agora camuflado, e poderá ser substancialmente superior, caso o sub-prime seja apenas a chama de ignição para algo que, isso sim, verdadeiramente nos deverá preocupar, a possibilidade da economia Americana entrar em recessão (de acordo com Alan Greenspan a probabilidade é de 30% a 50%).

Quando o sector imobiliário apresenta um importante contributo para economia norte-americana, certamente que, um choque abrupto neste sector terá um impacto negativo, fazendo abrandar os gastos dos consumidores, o nível de investimento, e consequentemente, a evolução da economia norte-americana. De acordo com dados recentes, o número de casas no mercado americano é duas vezes superior ao habitual, o que levará a uma queda dos preços das habitações e consequentemente a uma perda de valor para todos aqueles que possuem estes activos.

Se esta crise acelerar o processo de descida dos preços no mercado norte-americano, (que à priori se antevia que acontecesse de forma suave), afectará a economia do maior consumidor Mundial e consequentemente a Economia Mundial, que continua muito dependente das exportações que conseguem fazer para os consumidores norte-americanos.

Como se esta situação não fosse por si só suficiente, o elevado défice externo norte-americano alavanca o efeito da possível recessão nos EUA, fazendo com que a economia mundial esteja ainda mais sensível ao que acontece neste país. No entanto, dadas as elevadas taxas de crescimento apresentadas por países como a China, a Índia e outras nações asiáticas, poder-se-á especular que na actualidade estas economias poderão suster os impactos da degradação da economia norte-americana, mas sobre esta evidência nada se sabe ou certo. Esta crise servirá de prova de fogo para que estas economias mostrem o seu nível de maturidade, robustez e o verdadeiro peso transfronteiriço.

A ameaça hoje veste-se de “sub-prime”, mas amanhã o fato de gala será outro, negro para cumprir a tradição, mas aí só nos resta algo, que os anjos , leia-se consumidores Norte Americanos, nos salvem.

Bolha no mercado imobiliário espanhol

O mercado espanhol, maior parceiro económico para Portugal e estratégico para o início da internacionalização das PME´s, base do tecido empresarial português, apresentou um crescimento económico impulsionado pelo consumo interno e pelo forte desenvolvimento do mercado imobiliário, contribuindo em muito para que se verificassem, na última década, taxas de crescimento do PIB bastantes superiores à média da União Europeia. No entanto, o milagre do crescimento espanhol poderá estar à beira do fim, e aí certamente a nossa economia demasiado exposta a este mercado sofrerá.

Os sucessivos aumentos da taxa directora por parte do BCE e a quebra no mercado imobiliário estão a pressionar a actividade das construtoras. Com a elevada especulação no preço das casas, as entidades que tem suportado esta corrida à aquisição de imóveis e ao desenvolvimento de milhares de empreendimentos começam progressivamente a fechar as portas, diminuindo a liquidez disponível e contraindo o sector imobiliário, o que levará certamente ao fim da bolha especulativa e consequentemente ao contágio de toda a economia.

Neste cenário o consumo privado diminuirá, diminuindo as importações de produtos portugueses, pois os espanhóis com o seu proteccionismo irão renegar em primeiro lugar aos bens produzidos no exterior. Possivelmente as exportações espanholas irão tmbém cair, o que terá repercussões no encarecimento de alguns produtos que os espanhóis colocam no nosso mercado a preços bastantes competitivos. O fluxo de investimentos irá diminuir, e também poder-se-á assistir a um impacto no sector financeiro português (20% do qual se encontra em bancos espanhóis).

Dado que o impacto do abrandamento da economia espanhola se deve à extrema dependência que Portugal apresenta pela economia vizinha, a única forma de protecção passará pela mudança da estratégia económica do Governo Português. Ao invés da política de José Sócrates “Espanha, Espanha, Espanha”, que faria todo o sentido há 10 anos, deveremos apostar mais na diversificação das nossas exportações e importações, e não recorrer ao pseudo-facilitismo das relações económicas com o país vizinho.

Deve continuar-se a apostar nos novos mercados, como o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), Angola, entre outros alvo da recente diplomacia económica Nacional. Mas podem e devem também ser explorados, mercados emergentes no norte de África; países do Médio-oriente que, com o aumento do preço do petróleo, serão bons importadores dos produtos nacionais; alguns pequenos países da Europa ( Irlanda, Islândia, Chipre e Malta) que podem ser nichos de mercado para produtos Portugueses; e países da América Latina, que têm sido desprezados, mas que as recentes relações com a Venezuela devem ser um bom exemplo das apostas a seguir.

Esta ameaça ainda não eclodiu, não preenche páginas de jornais, os mais cépticos arriscam prognósticos, os restantes não têm interesse em falar.

Endividamento da economia portuguesa

O elevado endividamento das famílias e das empresas, constitui um obstáculo à recuperação económica do País. Não são só as empresas nacionais que estão fortemente endividadas, os particulares também, mas o endividamento das empresas não financeiras é que é preocupante pois são estas a fonte de riqueza da economia nacional e a base da criação de riqueza e de geração de emprego.

O endividamento das empresas não financeiras em Portugal atingiu, em 2005, um valor correspondente a 94,1% do PIB, enquanto a média nos países da Área do Euro rondava os 65,9%. Em média as empresa não financeiras dos países da União Europeia têm assim um endividamento que é um terço inferior ao português.

Será que este elevado endividamento, é para pressionar os nossos gestores a serem mais eficientes, ou por outro lado existe um medo generalizado das empresas portuguesas serem alvo de uma oferta pública de aquisição, e por isso mais vale o endividamento cego do que perdermos a nossa pobre independência económica.

Se é este o sentimento dos empresários portugueses, só eles o poderão confessar mas, de acordo com dados do Banco de Portugal, o endividamento das nossas empresas não é realizado nos sectores com maior potencial de valorização, e que podem proporcionar um valor acrescentado superior para a nossa economia. Ou pior, verifica-se que o aumento do endividamento das empresas não é determinado pelo crescimento do investimento. É alarmante esta situação!.

A recuperação económica só é possível com a contribuição conjunta do mercado interno e das exportações, mas essencialmente através dum tecido empresarial das PME, saudável, dinâmico, inovador, que contribua para o aumento de emprego e que invista nos sectores mais produtivos ou nos quais Portugal apresenta um factor competitivo superior e não apenas através dos grandes grupos, “mega-subsidiados” pelo estado, onde, em alguns casos são dúbias as estratégias de crescimento tomadas.

Neste campo as entidades financeiras têm a sua quota parte de responsabilidade na direcção tomada pelos nossos empreendedores, promovendo o investimento em projectos que garantam com uma probabilidade elevada o retorno suficiente para pagar pelo menos o financiamento bancário, mas de preferência que sejam projectos de baixo risco, revelando a sua faceta cínica, tendo em conta o papel que apregoam como agentes para o desenvolvimento da economia. Mas não hajam ilusões, se queremos crescer, ser mais produtivos, ter empresas mais rentáveis, de acordo com os fundamentos da teoria financeira nada disto será obtido sem se correr mais risco.

Se esta situação persistir algumas empresas conseguirão sobreviver, outras não, mas poucas conseguirão crescer, prosperar e contribuir para a melhoria do ambiente económico e social do nosso país.

Enfim fica a dúvida no ar, por onde começar para fazer frente ao eixo do mal. Deveremos seguir a estratégia do nosso sábio defensor, e destronar o tirano que nós próprios criámos aliciados pelo facilitismo proporcionado pelas taxas de juro historicamente baixas. Ou deveremos esperar que ocorra uma crise profunda na nossa economia e que preferencialmente se inicie num 11 de Setembro qualquer. Não declaremos guerra imediatamente com ou sem a nação unida.

Que Deus abençoe o nosso país e a todos que o defendem.

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